terça-feira, 19 de janeiro de 2016

LIBRAS



Resenha do livro “LIBRAS Conhecimento Além dos Sinais”

PEREIRA, Maria Cristina da Cunha, et al. LIBRAS Conhecimento Além dos Sinais. 1 ed.- Pearson Prentice Hall. São Paulo, 2011.

Maria Cristina é graduada em Letras (português/inglês) pela Universidade de Mackenzie, tem mestrado em Linguística Aplicada ao Ensino Língua pela Pontífice Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), é doutorada em Linguística pela Universidade estadual de Campinas. Atualmente é professora titular da PUC-SP. É professora da parte teórica da disciplina Libras e pesquisadora na área da surdez.
O Livro LIBRAS Conhecimento Além dos Sinais, publicado pela editora PEARSON é constituído de 125 páginas, dividido em 4 capítulos. E ao final da obra é apresentada uma bibliografia de cada autor.
No prefácio, Eulália Fernandes (prefaciadora) apresenta o trabalho dinâmico que os autores traçaram durante todo o processo de construção do livro. Esclarecendo que o ensino e aprendizagem da Libras vai além de somente conhecer os sinais, é necessário uma sintonia no saber aprender, no visualizar, entender e se apropriar.(pag.08)
Na apresentação, é priorizado o valor do reconhecimento da Língua brasileira de sinais, Libras como língua oficial da comunidade surda no Brasil pela Lei Federal nº 10.436 de 24 de abril de 2004. O capítulo 1 apresenta uma perspectiva histórica sobre a surdez e a educação de surdos no mundo e no Brasil e os primeiros estudos sobre a língua de sinal. O capitulo 2 aborda a importância da língua de sinais para a constituição dos surdos e da sua cultura. O capitulo 3 apresenta uma analise dos aspectos, fonológicos, morfológicos, sintáticos e discursivos da libras, com base em estudos linguísticos. O capitulo 4 discute aspectos envolvidos na aprendizagem da libras. Com esse conteúdo os autores esperam contribuir para um melhor conhecimento e aperfeiçoamento sobre a Libras.
No capitulo 1, intitulado: “As línguas de sinais sua importância para os surdos”, os autores nos informam que até a Renascença, a ideia de educar os surdos parecia impossível, foi a partir do século XVI que começou a história da educação dos surdos. ERIKSSON (1998), pesquisador surdo sueco refere três fases na história da educação de surdo. A primeira fase até 1760, as crianças surdas das famílias abastadas eram ensinadas individualmente por tutores geralmente médicos ou religiosos. A segunda fase começou no final do século XVIII quando três homens desconhecidos entre si fundaram escolas para surdos em diferentes países da Europa. A partir de então, travou-se uma batalha de princípios e propostas no que diz respeito a linguagem de sinais. No século XIX o oralismo de Heinicke dominou as escolas para surdos e os professores surdos foram destituídos do seu papel de educador, a língua de sinal foi proibida na educação de alunos surdos. Na terceira fase com a proibição da língua de sinais na educação de surdos por mais de um século impossibilitou os surdos de prosseguirem os estudos. A primeira escola para surdos no Brasil foi fundada em 1897 no Rio de Janeiro por D. Pedro II. Segundo CICCONE (1996) surdos brasileiros de várias regiões do país, que para lá se dirigiam foram educados por meio da língua escrita, do alfabeto digital e dos sinais. Nos últimos anos observa se um movimento de mudanças na concepção de surdez.
No capítulo 2 intitulado: “Língua brasileira de sinais-Libras direito dos surdos brasileiros” os autores informa que os surdos constituem uma comunidade linguística minoritária, cujos elementos identificadores são a linguagem de sinais. A comunidade surda vem-se preocupando nos últimos anos em elaborar registros históricos de pessoas surdas nas diferentes fases da história. PIMENTA e QUADROS (2007) chamam a atenção para o fato de que pessoas surdas quando estão em grupos podem conversar entre si intercruzando as conversas sem que estas interfiram nas outras, isso é possível por causa da língua de sinais. Outro costume da cultura surda é a conversa direta, o que para a sociedade ouvinte essa abordagem é considerada rude, especialmente em situações mais formais, já para os surdos parece ser “sempre” o principio agir de forma a facilitar a comunicação. No Brasil e no mundo a linguagem de sinais permite aos surdos se identificarem como sujeitos capazes e atuantes de uma cultura própria cuja característica principal é ser visual. O objetivo desse capitulo é mostrar a importância no reconhecimento do uso da língua de sinais para a construção da identidade surda.
O capitulo 3 intitulado: “Aspectos Linguísticos da língua brasileira de sinais”, os autores apresentam as características fonológicas, morfológicos e sintáticos da Libras. No aspecto fonológico, os sinais de libras são formados a partir da combinação dos movimentos das mãos com um determinado formato em um lugar específico, podendo ser uma parte do corpo ou um espaço em frente ao corpo (FILIPE, 2001), ou seja, na formação dos sinais da Libras são considerados os seguintes parâmetros: configuração das mãos, localização, movimento, orientação das palmas das mãos e traços não manuais. No aspecto morfológico, a Libras como a língua portuguesa conta com um léxico e com recursos que permitam a criação de novos sinais (KILMA e BELLUGI, 1979). Um processo bastante comum na Libras para a criação de novos sinais é o que deriva nomes de verbos e vice-versa, por meio da mudança no movimento, exemplo: os sinais SENTAR e CADEIRA tem a mesma configuração das mãos a mesma localização e a mesma orientação, porém, o movimento é diferente, mais longo em SENTAR, mais curto e repetido em CADEIRA. Como na língua portuguesa a Libras organiza seus sinais em classes gramaticais como substantivos, verbos, pronomes, advérbios, adjetivos e numerais entre outros. Aspecto sintático, embora pesquisa sobre a ordem dos sinais na Libras refiram S-V-O com predominante(QUADROS, 1999), a ordem tópico comentário parece ser a mais utilizada principalmente pelos os surdos não oralizados. O objetivo desse capitulo é mostrar que a Libras apresenta todos os requisitos das línguas orais, com a diferença  na modalidade de transmissão: visual-espacial ao em vez de oral-auditiva.
O quarto capitulo intitulado: “Ensino da Língua brasileira de Sinais”, os autores apresentam como se deu a oficialização da Libras, bem como algumas dificuldades comuns no aprendizado dessa língua. Ao longo de anos de lutas as comunidades surdas brasileiras tem conseguido conquistas significativas em relação ao direito de uso de Libras. A Lei Federal nº 10.436 aprovada em 24 de abril de 2002 reconhece a Libras como a língua oficial da comunidade surda, esse reconhecimento trouxe mudanças significativas para a educação dos surdos. Uma dificuldade comum na aprendizagem da Libras para muitos alunos ouvintes é o alfabeto manual ou digital. Outros aspectos da Libras que se mostra muito difícil aos alunos ouvintes é o uso dos traços não manuais, que incluem expressões faciais, movimento com a cabeça e o olhar, o uso da ordem de sinais nas orações e principalmente dificuldade com orientação das palmas das mãos. Esse capitulo apresentou uma reflexão sobre as dificuldades comuns no ensino aprendizagem da libras para muitos alunos ouvintes.
Finalizando o livro, os autores dizem que o ensino da Libras envolve mais do que sinais. Portanto cabe ao professor propiciar aos alunos uma visão sobre os aspectos educacionais linguísticos da Libras, bem como sobre a cultura surda.
Este livro proporciona uma significativa discussão sobre vários aspectos do ensino e aprendizagem da Libras ao longo da história da educação de surdo. Além de apresentar uma abordagem clara sobre aspectos e características do ensino da Língua de sinais para a plena constituição da identidade surda, é um livro totalmente didático e dinâmico. Assim sendo, ele é ideal para alunos ouvintes e imprescindível para o curso de pedagogia que busca ferramentas certas para um enriquecido e consciente ensino e aprendizagem do surdo.

Josefa Zuleide, professora de educação infantil, graduanda na faculdade Vasco da Gama, Campus Cajazeiras 8, no curso de pedagogia. Salvador, 2015.



One Response so far.

Leave a Reply